UFRN: Plataforma propõe melhora no monitoramento de casos de sífilis

Os casos de sífilis cresceram 5.000% no Brasil entre 2012 e 2017. O cenário acendeu a luz vermelha do Ministério da Saúde, que decretou, ainda em 2017, epidemia da infecção bacteriana. Preocupado, o Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou a adoção de medidas que ajudem a evitar seu agravamento e contínua proliferação.

Diante desse cenário, pesquisa da UFRN propõe um sistema tecnológico que monitora os casos de sífilis e permite o descarte de notificações redundantes de maneira automatizada. A ferramenta favorece a produtividade dos usuários e fortalece a confiança dos dados e indicadores que são utilizados pelos serviços de saúde.

A arquitetura tecnológica Salus foi apresentada como resultado da tese doutoral de Philippi Sedir, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e de Computação (PPGEEC), do Centro de Tecnologia (CT/UFRN), intitulada Salus: uma arquitetura de saúde digital aplicada à gestão de casos de sífilis.

A partir de métodos computacionais baseados em comunicação de múltiplos sistemas, a plataforma permite imprimir um modelo de qualificação dos dados e dos processos de trabalho tanto na vigilância quanto na atenção à saúde.

O Salus diminui a necessidade de desenvolvimento de novos tratamentos que podem causar erros e desequilibrar dados. A tecnologia, além de favorecer a cadeia de produção e a transferência de dados de qualidade para os estados, contempla uma área específica que permite ao gestor de saúde pública do município definir ou adotar metas e, ao mesmo tempo, acompanhar o seu alcance. Isso facilita a elaboração de planos de intervenção da doença mais viáveis que possam produzir resultados eficientes no município. Compondo um grupo de vários outros trabalhos em diversas áreas, o Salus objetiva reduzir os casos de sífilis adquirida e a possível eliminação da sífilis congênita por todo o Brasil.

Inicialmente, esse sistema de vigilância epidemiológica foi usado para monitorar pacientes diagnosticados com covid-19 por 14 dias, fazendo o processamento e a curadoria dos dados da base do e-SUS VE e, em seguida, encaminhando essas informações para as Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs).

O Salus foi planejado para ser uma ferramenta expansível e adaptável que pudesse dar maior poder aos municípios com a gestão de dados, integrando os processos de vigilância sanitária e atenção à saúde. Diante do contexto da pandemia no mundo, um dos primeiros módulos a serem implementados foi o de notificação de agravo. Agora, ela passa a ser usada, também, para controlar a doença sífilis.

A vigilância sanitária inclui o controle das doenças transmissíveis, a vigilância das doenças e agravos não transmissíveis, a observação da situação de saúde, verificação ambiental e da saúde do trabalhador e investigação sanitária. Nesse caminho, ela necessita estar apoiada em três pilares fundamentais: território, problemas e práticas de saúde. Foi baseado nisso que o pesquisador construiu sua tese. A plataforma incorpora em seu fluxo a gestão desses casos em âmbito municipal, que está mais próximo da população, e produz indicadores epidemiológicos e assistenciais sobre a sífilis.

Seu trabalho utilizou como materiais e métodos o 4+1, um modelo de visualização usado para descrever a arquitetura de sistemas intensivos de software, com base no uso de múltiplas visualizações simultâneas, proposto por Philippe Kruchten. Esse modelo separa os elementos do software em diferentes visões com o objetivo de gerenciar a complexidade, descrevendo os diferentes conceitos atrelados ao processo de decomposição de uma arquitetura. Para desenvolver essa construção, foram usadas as seguintes tecnologias: a linguagem de programação Python, o framework de desenvolvimento web Django, o banco de dados PostgreSQL; o armazenamento de estrutura de informações em memória Redis e o Padrão Representational State Transfer (REST).

Segundo o autor da tese, Philippi Sedir, sua motivação foi a de resolver problemas relacionados à sociedade. “Ainda durante a graduação, fui apresentado à perspectiva da saúde pelo meu orientador, Ricardo Valentim, e desde então me despertei para buscar formas de trazer a computação para melhorar os processos da área da saúde. Tive a oportunidade de trabalhar com tecnologias assistivas para deficientes visuais como parte da minha monografia de graduação. Em seguida, com integração de sistemas de telessaúde, no mestrado. Por fim, no doutorado, com o apoio do Projeto Sífilis Não, pude explorar mais nuances da tecnologia e trazer conhecimentos de experiências anteriores para a ótica da sífilis e gerar ainda mais valor”, comenta o pesquisador.

Ainda de acordo com Sedir, Salus é uma plataforma que impacta a sociedade de várias formas, seja por meio da atuação no serviço de saúde para reforçar e apoiar os protocolos e diretrizes de sífilis e outras doenças, seja trazendo dados contemporâneos para a tomada de decisão em políticas públicas. Isso se traduz em um serviço mais eficiente voltado à população.

A sífilis é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum e pode apresentar diferentes manifestações clínicas e estágios (sífilis primária, secundária, latente e terciária). A construção de um sistema de saúde como o Salus facilita a investigação e articulação desses casos, gerando uma melhora significativa no contexto sanitário dos territórios que decidam usar a tecnologia como método de trabalho.