Volta às aulas aos 90 anos: os idosos brasileiros que decidiram ir à faculdade
nov
08
2019
Nos dias em que tem aula, o aposentado Elpídio Neto de
Oliveira, de 70 anos, coloca a mochila nas costas e caminha por 50 minutos, com
botinas surradas pelo tempo, até o campus da Universidade Estadual de Mato
Grosso (Unemat), em Alto Araguaia (MT). Ele ingressou na unidade de ensino no
inicio de 2016. Atualmente, cursa o quinto semestre de Letras – ao todo, são
oito.
O aposentado Carlos Augusto Manço também retomou os estudos na terceira
idade. Aos 90 anos, iniciou o curso de Arquitetura e Urbanismo no Centro
Universitário Barão de Mauá, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.
Ele concluiu o ensino médio na juventude e desde então sonhava em cursar
uma universidade. Porém, dificuldades financeiras o impediam de concretizar o
sonho.
Aos 67 anos, a agente de Educação Infantil Dulce Araújo
conquistou o diploma de Pedagogia. Ela conta que o pai e o marido a impediram
de estudar quando era mais nova. Em razão disso, passou grande parte da vida se
dedicando à família. Décadas mais tarde, o desejo que tinha desde a infância se
realizou: foi aprovada na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Elpídio,
Carlos e Dulce são retratos de brasileiros que não tiveram a oportunidade de
fazer um curso superior na juventude e aproveitaram a terceira idade para
estudar.
No Brasil,
há 18,9 mil universitários com idades entre 60 e 64 anos. Na faixa etária acima
dos 65, o número é de 7,8 mil pessoas. Os dados incluem instituições públicas e
privadas. As informações constam no Censo de Educação Superior de 2017,
levantamento mais recente. Os dados não especificam a quantidade de idosos que
estão fazendo curso superior pela primeira vez.
Para Maria
Candida Soares, pesquisadora em envelhecimento humano pela Universidade
Estadual Paulista (Unesp), cursar uma universidade pode trazer benefícios aos
idosos, como a atualização de conhecimentos, visão de um novo momento
sociocultural e a possibilidade de buscar uma nova carreira.
“Muitos
conseguem ter acesso ao tão sonhado diploma universitário apenas na velhice.
Mesmo que não seja para o exercício de uma atividade profissional, eles podem
buscar uma universidade pelo prazer, mérito e reconhecimento em ter concluído o
ensino superior, algo que ainda não está disponível para todos os
indivíduos”, diz à BBC News Brasil.
A população idosa do Brasil tem crescido a cada ano. De 2012 a
2017, a quantidade de idosos aumentou em 18% no país, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para as próximas décadas, a
estimativa é de que o número cresça ainda mais.
Segundo o
IBGE, pessoas com 65 anos ou mais corresponderão a 25,5% da população em 2060.
Em 2018, tal faixa etária corresponde a 9,2%.
“Nessa perspectiva de aumento da população idosa, o contexto nas universidades deverá ser alterado com o passar dos anos”, diz Maria Candida. Segundo ela, cada vez mais se tornará comum a presença de idosos em cursos superiores.
Assis Silva
Jornalista – DRT 1652 – Começou na imprensa local através do jornal A Cidade, foi redator-noticiarista das rádios Baixa verde AM. Líder FM e TOP FM, editor e redator de vários jornais regionais e locais ao longo de 30 anos de profissão. Em 2007 criou o 1º blog da região campeão em acessos diários. Fone para contato: 84 9 9610 - 9977