Diploma ‘congelado’ vira pesadelo para universitários na pandemia

Planos suspensos: Danila Martins da Cruz Silva, prestes a se formar em pedagogia, diz que, entre colegas, 70% perderam contratos de estágio(foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

Foram meses de expectativas, decisões, espera da transição da vida de estudante para o mercado de trabalho. Pelos cálculos, aulas até julho e, depois, diploma na mão. Mas, para universitários dos últimos períodos das instituições públicas de educação superior, o isolamento social ultrapassou a barreira da falta de aula. O ensino remoto foi adotado apenas recentemente e, por isso, a sonhada formatura só deve ser possível quase um semestre mais tarde.

As consequências vão do adiamento de cerimônias à reprogramação de planos profissionais. Sem o canudo na mão, muita gente já perdeu emprego e a possibilidade de carteira assinada que marcaria o início de carreira. Um drama que atinge milhares de alunos em Minas Gerais.

Para se ter uma ideia, o último Censo da Educação Superior, divulgado ano passado com dados de 2018, mostra que, naquele ano, 27.746 mil alunos se formaram em instituições públicas de ensino superior mineiras. É desse contingente que sonhava fazer parte a estudante Maria Luíza Araújo de Moura, de 22 anos, do 8º período de pedagogia na Universidade Estadual de Minas Gerais (Uemg).

Quando 2019 acabou, tudo parecia perfeitamente encaixado: ela encerraria a faculdade no meio do ano, ficaria noiva e tinha grandes chances de ser contratada na escola particular onde trabalhava. Um semestre depois, a estudante que tinha um contrato de estágio na escola onde atuava como auxiliar de sala numa turma de crianças de 2 e 3 anos viu o que era expectativa virar decepção.

Com pais cancelando matrículas e para aliviar o déficit financeiro, as quatro estagiárias e outros funcionários foram dispensados. “Ficou inviável nos manter, porque, teoricamente, não faríamos nada”, conta. A expectativa era continuar na escola, onde havia estudado quando pequena, e assumir em algum momento o cargo de docência. “Eu e uma colega estávamos esperando algumas aposentadorias e vendo oportunidade de cargo melhor com carteira assinada. A dispensa foi um baque. A gente nunca espera e conta com o dinheiro. Ia noivar, viajar, estava juntando dinheiro para o vestido da formatura…”

O fim das aulas na Uemg está programado para outubro e, a partir desse momento, trabalho só com carteira assinada. Fica proibido assumir cargo de estagiária. A expectativa de voltar para a antiga unidade de ensino fica cada vez mais longe. Em março, quando as escolas fecharam, a universitária recebeu o salário do mês todo, ficando em aberto “pagar” os dias não trabalhados daquele mês quando as aulas presenciais retornassem.

“Naquela época, achávamos que a situação duraria um ou dois meses, o que me dava a esperança de voltar antes de me formar e de continuar lá. Agora, me formo em outubro e provavelmente as escolas não reabrirão este ano. Minhas esperanças de voltar como estagiária e progredir foram podadas”, lamenta Maria Luíza.

Para o ano que vem, ela prevê um período ainda mais difícil, tendo que bater na porta de escolas ou esperar concurso público. “É pior para recém-formados, pois as escolas querem educadores com experiência”, diz. Na faculdade, as aulas on-line estão sendo dadas desde o último dia 27 de julho, mas somente às quartas-feiras. Três atividades gerais estão programadas para valer como pontos para todas as matérias e a monografia será apresentada nos primeiros dias de julho. 

Sem estágio remunerado nem perspectivas de sala de aula, ela terá agora que cumprir exigência da faculdade de um estágio no último semestre, com escolas fechadas. “A faculdade está cobrando estágio on-line. Ficamos perdidos, pois neste semestre o estágio seria na gestão e na coordenação da escola. É preciso arrumar escola e elas estão com as secretarias fechadas. A Uemg nos falou de três escolas, mas somos 120 alunos”, diz. 

Fonte: Jornal Estado de Minas