Trabalhadores perdem até 25% de renda. É a maior queda já registrada, diz IBGE

A pandemia do novo coronavírus (Covid-19) está sendo ainda mais cruel para 27,3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras formais e informais que não têm instrução, ou apenas possuem o ensino fundamental incompleto ou completo e ensino médio incompleto, mostra a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNDA) Covid, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

As perdas nos rendimentos mensais chegaram até 25% em maio último, para quem tem baixa escolaridade. Este índice diminui para 24% em junho e 18% em julho.  Ainda assim, no último mês analisado, a perda de renda dos que têm pouca instrução é 8% maior dos que tem ensino superior completo e pós-graduação. Neste grupo, no mesmo período, os rendimentos caíram 14%,13% e 10% respectivamente .

Em média para todas as escolaridades, a renda obtida pelo trabalho caiu em maio 18%. Em junho, a queda foi de 17% e, em julho 13%. É a maior queda de rendimentos dos trabalhadores registrada desde 2012, quando a pesquisa começou a ser feita. Até hoje, o maior índice havia sido registrado no ano da crise econômica de 2015, com 3%.

A professora de economia e pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho (Cesit/Unicamp), Marilane Teixeira, diz que em maio e junho deste ano, os rendimentos foram menores porque eram os meses do auge da suspensão dos contratos de trabalho e da redução de jornada e salários previstas na Medida Provisória (MP) nº 936, que atingiram 10 milhões de trabalhadores. Além disso, os meses de abril e maio, auge da quarentena, impactaram também nos rendimentos dos informais.

Quando se tem aumento da oferta de mão de obra e se reduz os ganhos, haverá uma queda maior de renda. Nesta situação, o trabalhador vai se submeter para ganhar qualquer coisa. Quem for contratar pode pagar qualquer valor e vai ter gente disposta a ganhar abaixo do salário mínimo

Quando se tem aumento da oferta de mão de obra e se reduz os ganhos, haverá uma queda maior de renda. Nesta situação, o trabalhador vai se submeter para ganhar qualquer coisa. Quem for contratar pode pagar qualquer valor e vai ter gente disposta a ganhar abaixo do salário mínimo- Marilane Teixeira

Na avalição do economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Daniel Ferrer de Almeida, a queda no rendimento do trabalhador com menor escolaridade é uma relação um tanto quanto evidente, já que a maioria não pode fazer home office e tem dificuldades em procurar um emprego digital.

“Depois de seis meses de pandemia começam a ser quantificadas as hipóteses que o movimento sindical já vinha denunciando, de que as perdas com as poucas medidas tomadas pelo governo para conter a crise econômica cairiam nas costas dos trabalhadores”, diz Daniel, que é doutorando em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo (USP).

E esta situação tende a piorar, já que os cálculos do rendimento médio efetivo devem cair ainda mais, com a previsão do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano variando negativamente de 4,5% a 5%, segundo o próprio governo, ressalta Marilane Teixeira.

Fonte: Portal da CUT