UFRN e UFERSA desenvolvem tecnologia eficiente e ecológica para combater parasitas

Carrapatos são uma das preocupações mais frequentes entre os donos de animais de estimação, bem como para os criadores de bovinos e caprinos. No mundo, há 60 espécies de carrapatos e, entre as doenças que esses animais podem transmitir, diversas são fatais, sendo as mais conhecidas a doença de Lyme e a febre maculosa.

Para o controle são utilizados os carrapaticidas, produtos químicos capazes de conter a ação negativa dos parasitas, livrando o hospedeiro. Entretanto, a deficiência na regulamentação da venda, associada à utilização inadequada desses remédios, teve como consequência a redução na eficácia dos produtos comerciais – sobretudo devido a uma pressão de seleção artificial na população de carrapatos.

Pensando nisso, equipes de cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Universidade Federal Rural do Semiárido (Ufersa) se juntaram e conseguiram desenvolver uma formulação inédita para uso veterinário em infestações por carrapatos e sarnas em animais de criação, como cavalos, bovinos, cabras e ovelhas, em animais domésticos como cachorros e gatos, além da possibilidade de se aplicar em animais selvagens como capivaras.

Coordenador da equipe, o inventor Alexandre Santos Pimenta salienta que o uso ainda vai além. Segundo ele, o produto pode ser usado também para prevenção e controle de infestações de caprinos por piolhos, como anti-inflamatório e cicatrizante para uso externo em aplicações veterinárias, no caso de tratamento de queimaduras, feridas comuns e pós-cirúrgicas.

“Essa formulação veterinária que foi desenvolvida tem em sua base o extrato pirolenhoso de eucalipto, ou apenas EP, produto natural derivado de lenha de reflorestamento. O processo parte da carbonização da lenha, passando pela produção dos líquidos pirolenhosos brutos, a partir dos quais é obtido, por purificação, o EP em grau farmacêutico. Após essa última etapa, o produto é concentrado, aditivado com outros componentes, tem o pH ajustado e a formulação carrapaticida está pronta para uso, agindo também como sarnicida, anti-inflamatório e cicatrizante. É importante ressaltar que os carrapatos, por exemplo, vêm adquirindo resistência aos produtos convencionais utilizados para o seu controle, o que indica a importância do desenvolvimento de novos produtos para essa finalidade, sobretudo se forem originados de recursos naturais como plantas, que é o caso do nosso produto”, explica o professor da Escola Agrícola de Jundiaí da UFRN.

A estratégia para desenvolver essa invenção é diferente e mais viável economicamente tanto do ponto de vista de uso final quanto em termos de custo de transporte do produto, já que a formulação apresenta alta concentração de princípios ativos contra os parasitas.

Alexandre Pimenta realça que a principal característica da formulação apresentada aqui é a composição química. Nela, em vez de haver apenas um princípio ativo, há pelo menos 18 componentes ativos com efeito biológico contra os carrapatos e a sarna. Por lógica, a variedade de compostos dificulta que os parasitas fiquem resistentes ao produto porque, caso a resistência apareça para um dos componentes, os demais princípios ativos exercerão o seu efeito contra os ectoparasitas.

Outra característica importante é que os componentes ativos da formulação são naturais, não apresentam toxicidade a mamíferos e não têm efeito residual na carne ou no leite dos animais.

Nesse panorama, o tratamento com produtos de origem natural como o criado pelo grupo surge como uma alternativa que, se viabilizada em escala industrial, apresenta grande potencial envolvendo programas de pesquisa e desenvolvimento voltados para descoberta de compostos bioativos. Estudos com plantas medicinais já apontam nessa direção, de modo que sobressaem aspectos como diminuição da resistência e menor impacto da contaminação residual no meio ambiente.

A pesquisa rendeu um pedido de patenteamento, depositado junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) no mês de agosto sob o nome Formulação carrapaticida, sarnicida, anti-inflamatória e cicatrizante à base de extrato pirolenhoso de eucalipto e uso da mesma. Além de Alexandre, participaram da criação Ana Carla Diógenes Suassuna Bezerra, Ismael Vinicius de Oliveira, Tatiane Kelly Barbosa de Azevêdo, Eduardo de Souza Araújo e Ana Karolinne de Alencar França. 

Em vídeo, pesquisadores falam sobre a patente (https://www.instagram.com/p/Ci2OmU6uP75/