Pesquisadora do Ceres investiga a seca na história do RN

As doenças nutricionais do Rio Grande do Norte do fim do século XIX à década de 1930 são abordadas na tese de doutorado da pesquisadora Avohanne Costa, formada em História pelo Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres). Agora, sua pesquisa será apresentada na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro, instituição importante na área da ciência e em pesquisas sobre saúde.
Avohanne conta que decidiu trabalhar com esse período de tempo tanto por questões políticas como por deficiências alimentares dos habitantes do RN na época, que nesse momento era tido como estado da região Norte, não Nordeste como é hoje.
“[A seca] mobilizou mais os setores políticos, tanto dos governos provinciais do Norte, solicitando recursos financeiros do Governo Central […], assim como a mobilização dos engenheiros do Instituto Politécnico Brasileiro (também localizado no Rio de Janeiro) em estudar soluções para o combate às secas, promovendo debates acerca de quais construções seriam viáveis para lidar com este fenômeno nas províncias do Norte”, relata.
Outro motivo que levou a pesquisadora a lidar com a questão da seca e sua influência nas doenças alimentares, durante os anos de 1877 a 1935, foi a carência alimentar: beribéri e escorbuto, causadas respectivamente pela falta de vitaminas B e C no organismo, eram frequentes nos registros de óbito da época. Nesse momento, inclusive, a nutrição sequer era consolidada como ciência.
“Decidi encerrar minha pesquisa com o ano de 1935, porque, a partir de estudos historiográficos já existentes, foi perceptível ver que, mesmo com a construção de açudes era comum encontrar trabalhadores que sofriam com problemas alimentares, o que mostra que, mesmo com o advento dessas obras, as doenças ligadas às irregularidades na alimentação eram comuns”, afirma Avohanne.
Migração dos potiguares

A escassez de água, a morte do gado e a falta de alimentação são causas conhecidas da migração em massa dos nordestinos, em busca de sustento em outras regiões do país. O governador Alberto Maranhão chegou até a instituir uma política que concedia crédito a emigrantes voluntários que saíam do RN porque não conseguiam emprego no estado.
“Nesse recorte temporal que eu me debruço a pesquisar, encontrei registros de epidemias de varíola, doenças relacionadas a problemas alimentares, entre outros, que colocavam em risco os chamados retirantes da seca. Os que optaram por ficar no Rio Grande do Norte trabalhavam nas obras públicas como construção de açudes, estradas de ferro e nos melhoramentos urbanos da capital Natal em troca de comida”, informa a pesquisadora sobre sua tese.
Alimentação: pesquisas iniciais no Brasil
A revista Brazil-Médico foi uma das pioneiras em tratar a medicina como campo de pesquisa que precisava de divulgação de seus estudos no país. Entre os temas de pesquisa publicados pela revista, estava a alimentação. No entanto, segundo a pesquisadora Avohanne Costa, o assunto quase nunca chegava a ser direcionado aos hábitos alimentares dos sertanejos, que eram os mais afetados pela seca.
“O que me chama a atenção nos dados que eu colhi na referida revista é que estes estudos não investigavam a situação alimentar dos sertanejos, salvo o estudo do médico maranhense Nina Rodrigues (1862-1906) sobre a farinha de mandioca datado do ano de 1888”, disse Avohanne.
Com o avanço dos estudos acerca da nutrição nos anos 1930, Josué de Castro já passa a indicar que a situação socioeconômica dos sertanejos também contribuía para piorar o drama da seca. “O que ele constatou foi que o salário dos operários não cobria os gastos necessários para a sobrevivência sendo a alimentação deles insuficiente, carencial e desarmônica”, finaliza Avohanne Costa.
Fonte: UFRN