Debate medíocre aumenta desafio do eleitorado

Josias de Souza
Se o primeiro debate entre os presidenciáveis serviu para alguma coisa, foi para demonstrar que, se quiser transformar 2018 no ano da virada, o eleitor terá de tratar o voto com atenção redobrada. Os temas que interessam ao brasileiro estavam todos lá, no palco da TV Bandeirantes —da roubalheira ao desemprego. Faltaram as ideias. Ainda que elas existam, seria impossível esmiuçá-las no cercadinho de tempo de um programa com oito candidatos.

O problema vem de longe: os debates foram engessados pela lei eleitoral e pelo esforço das assessorias para proteger os candidatos. Misturando-se tudo o que foi dito, o resultado é uma espécie de elixir embromatório. O preparado contém 49% de autoelogios, 49% de enrolação e 2% de contraditório. É inofensivo para os candidatos. Mas ofende a paciência dos eleitores que se dispõem a adiar o encontro com os travesseiros para ouvir o lero-lero.

Haverá mais oito debates, na TV e na internet. As transmissões constituem uma prestação de serviço. Melhor ter algum debate do que não ter nenhum. Mas algo precisa ser feito para oxigenar esse tipo de atração em eleições futuras —‘Para honra e glória do Senhor Jesus’, diria o Cabo Daciolo, uma das evidências da falência do modelo. Num debate opaco, cada eleitor tende a achar que seu candidato saiu vitorioso. Mas fica sempre no ar uma pergunta: quem ganha um debate medíocre é melhor ou pior do que quem perde?