Resenha do professor, poeta e historiador Cláudio Wagner sobre o livro ‘Dê Lírio’ de Nildinha Freitas

Quem me ensinou a juntar as letras e depois soletrá-las, no que chamamos de saber ler, foi certamente a professora Anilda, na Escola Estadual Isabel Gondim. Mas, quem de fato me ensinou a ler foi meu amigo, professor e advogado João Maria Oliveira (João Oliveira). Ele não é do tipo que dá conselhos sobre qual livro deveríamos ler, mas sim, chega e nos empresta tal livro. Daí, você só tem duas opções: ler ou ler. Acredite, ler um livro que passou pelas mãos de João Oliveira é uma experiência única, pois o livro vem todo fichado, com apontamentos e suas impressões a respeito da leitura. Isso torna a leitura encantadora, já que parece que estamos lendo um livro dentro de um livro. Assim sendo, aprendi a ser desses que pega um livro, lê de orelha a orelha e ainda dá uma boa olhada na ficha técnica e catalográfica da obra.

E o que tem haver ter aprendido a ler, com essa resenha? Tudo! Pois, foi preciso rabiscar toda a obra “Dê Lírio”, ler como o João Oliveira leria, deixando apontamentos a cada nova virada de folha. Foi preciso soletrar cada palavra, para que os poemas (poesias) viessem a fazer parte da constituição do meu próprio ser. E foi justamente o que fiz, pois só assim pude experimentar todo o prazer que esta obra, da Escritora Nildinha Freitas, pode proporcionar.

O livro nos apaixona logo pela capa em vermelho-escarlate e letras douradas. Já que o vermelho é a cor das paixões e o dourado lembra a riqueza, contextualiza perfeitamente com tudo que encontramos do princípio ao fim do mesmo, que é pura riqueza poética.
Sua apresentação foi feita por um magnifico escritor, o Junior Dalberto. Esse, inclusive, escreveu o livro “Pipa Voada Sobre Brancas Dunas”, cuja leitura me salvou a vida. Mas essa, é outra história.

Tenho toda convicção de que a pessoa que me fez amar poesia, o meu saudoso avô José Rodrigues, iria amar ler “Dê Lírio”. E quem sabe isso não ocorra, uma vez que existe uma possibilidade quântica dessa obra está transcendendo nossa realidade e em outro universo (subversor), meu avô possa deleitar-se, assim como eu, com os poemas de Nildinha Freiras. E olhe que sou bem descrente nessas coisas, mas tanto Nildinha, como Júnior Dalberto quebram minha descrença, uma vez que suas escritas geniais dão verdade àquilo que nos parece impossível de ser.

Bem, falei da cor do livro, falei dos que me ensinaram a ler, falei até de quem me ensinou a amar o gênero literário poesia, mas ainda não fiz o que sempre faço em todas as resenhas que escrevo, ainda não deixei um fragmento da obra, algo que gostei assim que li. Preciso confessar que estou com problema quanto a isso, pois gostei até do cheiro da tinta que foi usada para imprimir esse livro. Então, minha tarefe de escolher apenas um fragmento está muito difícil! Deu vontade de colocar todos os poemas, na íntegra, só que seria acusado de plagio e, o pior, você não iria comprar a obra de Nildinha Freitas para ter o mesmo prazer que eu tive. Mas, vamos lá! Depois de muito pensar, lá vai um fragmento de “Dê Lírio”:

Verdades e mentiras sobre mim?
Coisas ditas!
Coisas que ninguém viu
E nem sei se ainda vai ver.

Os pedaços do meu pranto
Que deixei espalhados
Pelos cantos
Ninguém nunca recolheu.

(Trecho do poema “Fragmento”. p.85)

O eu-lírico da poetisa nesses versos parecem falar da própria poetisa, mas mais que isso, fala é de nós. Dou fé em dizer do que queríamos saber sobre nós, na visão dos outros, ao mesmo tempo que é um fragmento, uma parte, um pedaço, o poema é também um todo indivisível, ele entra em movimento e se conecta a todas as partes e estruturas universais do fazer poesia, do fazer da magnânima poesia.
Por hora, é o que posso dizer da poesia de Nildinha Freitas. Seu livro me deixou em êxtase. Obrigado Poetisa, por tão caprichosos versos em cada uma das 89 páginas do seu e do nosso “Dê Lírio”.
Me atrevo a usar um verso de uma das músicas da banda Legião Urbana: “Venha, que o que vem é perfeição”. Então, venha e leia a obra de Nildinha Freitas, que verás o que é perfeição.

Cláudio Wagner
Poeta, professor historiador, Cientista das Religiões, 1º Secretário da SPVA/RN e autor do livro Entre a Sombra da Razão e a Razão da Sombra.

REFERÊNCIA
FREITAS, Nildinha, Dê Lírio. Natal-RN, CJA Edições, 2017.
LEGIÃO URBANA, Perfeição, extraído do site: https://www.letras.mus.br/legiao-urbana/46967/