Aos 18 anos, brasileira passa em sete universidades internacionais

Isabelly Moraes Veríssimo dos Santos é moradora de Vila São José, comunidade da periferia da cidade de Cubatão (SP). Com apenas 18 anos, a jovem realizou um grande sonho: conseguir uma vaga para estudar neurociência fora do país. Isabelly fez o processo seletivo de 10 universidades nos Estados Unidos e na Austrália, foi aprovada em sete, sendo seis nos EUA e uma na Austrália. Em seis delas, a estudante conseguiu bolsa por mérito estudantil, destinada a alunos com bom rendimento escolar.

Escolheu ir para a Nova Southeastern University (NSU), na Flórida (EUA). “Foi a faculdade que mais me deu apoio, foram muito acolhedores com essa questão da pandemia. Além de ser uma referência na área da saúde, também tem ênfase na diversidade (LGBTs, estrangeiros e mulheres em cargos de liderança)”, diz Isabelly. 

A estudante se interessou por cursar neurociência no exterior porque é preciso trilhar menos etapas para chegar até a área escolhida. No Brasil, teria que, primeiro, fazer graduação em medicina. Depois, pós-graduação em neurologia para, só então, fazer a especialização em neurociência. No exterior, ela estudará a área direto na graduação. 

As aulas nos Estados Unidos começam em 17 de agosto, mas Isabelly ainda não sabe se vai conseguir viajar até essa data. O consulado está fechado até 31 de julho devido à pandemia do novo coronavírus. “Muita gente tem tentado tirar o visto. Com a proibição da entrada de brasileiros nos Estados Unidos, talvez demore um pouco para conseguir a entrevista e tirar o visto.”
Há ainda outras dificuldades. Para estudar no exterior, é necessário que o estudante comprove que têm recursos para se manter no país pelo período de um ano. Isabelly recebeu uma bolsa de 16 mil dólares, o valor cobre a maior parte da taxa anual da faculdade, mas não é suficiente. 

Somando esse fato à alta do dólar, a estudante decidiu abrir uma vaquinha on-line para quem quiser ajudá-la a custear os estudos. A jovem precisa de R$ 73 mil para pagar plano de saúde obrigatório, compra de material didático e taxas de serviços. Em troca do dinheiro doado no site, ela oferece recompensas, como mentorias e videoaulas.

A jovem sempre estudou em escola pública. De família humilde, teve um ensino fundamental precário na escola municipal do bairro. A vida começou a mudar quando chegou ao Instituto Federal de São Paulo (IFSP), onde cursou o ensino médio. A escola, também pública, transformou o destino da jovem.

No IFSP, Isabelly começou a participar de atividades extraclasse. “Eu me envolvi em atividades de voluntariado, pautas que são de cunho social e científico.” Como a formação do ensino médio no IFSP é integrada ao ensino técnico, ela tinha como parte da carga horária de estudos um estágio obrigatório em uma loja de informática. Trabalhava e, com o dinheiro do estágio, ajudava em casa. 

Quando assistiu a uma palestra sobre oportunidades em faculdades internacionais com o youtuber Matheus Tomoto, passou a se interessar por estudar fora do país. Com o dinheiro ganho no estágio, pagou uma mentoria com o rapaz.

Em relação ao futuro, a estudante é cautelosa, porém decidida: “Eu nunca fui uma pessoa de muitas expectativas, mas pretendo voltar para o Brasil e trabalhar como cientista e médica”. Isabelly quer atuar no Sistema Único de Saúde (SUS) ou programa no Médico Sem Fronteiras (MSF). 

Correio Braziliense