Mais de três mil pessoas vivem nas ruas de Brasília como pedintes
jul
22
2019
Dois netos para
criar, mais de R$ 300 em contas atrasadas, e a feira do mês por fazer. O ganho
fixo mensal? R$ 96. O único dinheiro garantido no mês vem do Bolsa Família, mas
está longe de ser suficiente para sobreviver. Essa é a realidade de Rita de Cássia
Santana, 61 anos. Para encontrá-la, basta andar pelas quadras do Setor
Comercial Sul, onde a moradora de Brasilinha (GO) — a cerca de 63km do Plano
Piloto — pede dinheiro, na esperança de se deparar com quem se solidarize.
Não existem
dados exatos sobre a quantidade de pessoas que deixam suas casas diariamente em
busca de ajuda. A Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes) calcula que haja
pelo menos 3.020 pessoas em situação de rua no Distrito Federal.
O estudo mais
recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), elaborado em 2015,
aponta que esse número seja de cerca de 101 mil pessoas no país. Mesmo assim,
as taxas são só estimativas, pois tratam-se de quantidades difíceis de
mensurar, especialmente em relação a pedintes.
Entre os relatos deles, há motivos diversos que os levaram à
vida nas ruas. Desemprego, contas atrasadas, doenças. Um sentimento, no
entanto, é unânime entre os entrevistados: a expectativa de mudar de vida. Rita
de Cássia é movida por essa esperança. “Ganhei R$ 12 e comprei uma caixa de
doces para vender, porque tenho vergonha de ficar pedindo, mas, quando não
tenho dinheiro para comprar balinhas, o que me resta é pedir. Muita gente acha
que estamos aqui porque queremos”, desabafa. Assim que começa a narrar a
própria história, ela tira algumas contas da pequena bolsa que carrega. “Vou te
mostrar para você ver que não estou mentindo.”
Com um cartão de passe livre, ela consegue chegar ao centro
da capital federal. Para que não fiquem sozinhos, quando os netos, de 7 e 9 anos,
não têm aula, ela os leva junto — apesar do medo de que “aprendam” a vender
drogas. O trauma vem de um episódio na Rodoviária do Plano Piloto. “Deixaram
uma bolsa comigo, a polícia me abordou e havia drogas nela. Juro que não sabia.
Até hoje, tenho medo e vergonha de andar ali”, confessa.
Assis Silva
Jornalista – DRT 1652 – Começou na imprensa local através do jornal A Cidade, foi redator-noticiarista das rádios Baixa verde AM. Líder FM e TOP FM, editor e redator de vários jornais regionais e locais ao longo de 30 anos de profissão. Em 2007 criou o 1º blog da região campeão em acessos diários. Fone para contato: 84 9 9610 - 9977